sábado, 1 de janeiro de 2011

Feliz Ano Novo



São 3 amigas.
Fernanda está na flor da idade. No alto dos seus 22 anos já teve muito história pra contar. Se casou, separou... Teve uma filha, e vive no conflito do “será que algum homem vai se interessar por uma mulher com uma filha de 3 anos?”. Bonita, divertida, turbinada... Ainda não entendeu que o interesse vem sem regras. Ele acontece. E quando acontece não há empecilhos.
Ana é uma mulher experiente, psicóloga, bonita e igualmente divertida. Depois de anos casada, dois filhos e muitas decepções, resolveu se dar uma chance de ser feliz novamente. Vive o auge do surto da separação... É.. Aquele surto que todos temos quando nos separamos que faz parecer que o momento é agora e que amanhã pode nunca mais acontecer. Busca um amor pra vida toda. Se apaixona na velocidade da luz, e na mesma velocidade faz a fila andar quando não é correspondida.
Laura é uma incógnita até pra ela. Depois de um casamento, um Câncer, uma desilusão... Acredita já ter experimentado tudo que a vida tem pra dar. Vive uma fase de estagnação... Parada... Suspensa no ar! Tem uma filha de 15 anos que é a paixão da sua vida, e hoje se satisfaz vendo a filha viver aquilo que ela já viveu. É sempre bem quista entre os amigos que acham ter ela encontrado o segredo da paz e da serenidade. Não sabem eles que por trás daquela mulher moderna, bem resolvida, divertida existe uma mulher que grita. Ah, se essa mulher falasse...
Começo hoje contando do penúltimo dia de 2010.
São 21:45 e Laura liga para Ana dizendo que ainda não está pronta. Ana já está em cima do salto (Ela sempre fica pronta primeiro). Não sabem ainda onde vão, mas por algum motivo o novo namorado da Ana resolveu dar uma surtadina básica e sumir. Então, borá pra rua!!
As duas já passaram dos 35, portanto não é em qualquer lugar se sentem confortáveis. Depois de voltas intermináveis pela cidade acabam sentando no bar de sempre, pedindo a bebida de sempre e esperando como sempre que algo extremamente extraordinário aconteça. Moram numa cidade sem muitas opções... Sem atrativos! A concorrência é de 10 mulheres para cada homem, e as mulheres além de tudo são bonitas... Portanto a coisa não é fácil.
Ana está em dia. Com um namorado novo. Cheio de vontade. Ela se atreve em sexy shop, e se delicia entre velas, sabores e temperaturas, tudo para diversificar a relação e torná-la o mais diferente possível do seu antigo casamento.
Laura, como já dito, parou no tempo. Costumava ser uma mulher cheia de pretendentes. Sexo, era palavra comum em seu vocabulário. Tinha uma cabeça aberta, e não fazia a menor cerimônia em colocar mais um na sua lista de P.A’s. Sim, para ela sexo nunca esteve relacionado ao amor. Sexo era sexo. Bastava escolher qual era forma que queria no dia: carinhoso, cúmplice, selvagem... Uma ligação, e pronto. Sexo era delivery. Mas por algum motivo um dia isso mudou. Talvez ela tenha cansado. Isso é muito comum se tratando de Laura. Ela se cansa das coisas. Principalmente daquelas que abusa do uso. Roupas, sapatos, bolsas, cabelo, pessoas e até sexo... Tudo na vida dela tem prazo de validade.
Fernanda chega no bar com a euforia de quem tem 22 anos. Aos 22 o mundo é de possibilidades infinitas. O simples fato de sentar na mesa com as amigas coroas já é excitante, porque é sinal de que por mais uma noite ela terá a possibilidade de aprender algo muito além da sua idade. EXPERIÊNCIA! Essa é a grande vantagem de conviver com mulheres mais velhas.
Depois de algumas “margueritas”, e de incomodarem com a alegria de bêbados na mesa ao lado, Laura dá a grande sugestão da noite:
_ Vamos dançar!
Mas dançar onde? As boates da cidade tem opções limitadas: ou se vai para boate da moda e fica-se deslocada entre jovens de 18 anos que acabaram de ser apresentados à bebida, ou escolhe a outra boate “da hora” onde insuportavelmente você tem que se render ao som do sertanejo (Laura odeia música sertaneja!).
Então Laura mais uma vez lança mão da sua criatividade e dá a brilhante sugestão:
_ Vamos para uma boate gay! Não há lugar melhor para dançar. É diversão garantida. E as possibilidades da noite não vão muito além de mais uma marguerita e cama para todas, e lá não... Lá nós vamos dançar!
As duas amigas ficaram em dúvida. Primeiro pensaram que Laura estava brincando. Ana e Fernanda nunca haviam pisado num lugar como esse. Soava perigo, pecado, errado. Laura estava acostumada. Teve por toda vida gays como grandes amigos. Era considerada a “Drag” que deu certo por ter nascido mulher. Talvez pela alegria ou pelo desembaraço de lidar com o assunto... Talvez por ser aquariana e ter uma cabeça sempre a frente do seu tempo. Lidava com assunto com muita naturalidade, mas ficou receosa em levá-las quando enxergou a dúvida que pairava na cabeça das amigas. Sabia ela que quando pessoas héteros se propunham em adentrar o mundo GLS tinham que ter a cabeça muito aberta. Tinham que estar preparados para ver o que não se vê nas ruas. Homens se beijando.. Mulheres te olhando com olhar de desejo... Tudo isso tem que ser natural... E se não for... Tem que fingir que é.
Chegaram na porta da boate e o segurança já olhou com cara de “o que elas estão fazendo aqui?”. A primeira pergunta foi:
_ Vocês conhecem a casa?
Laura riu. Sabia que a cara das amigas deixava claro que era a primeira vez. Olhos vidrados... Cara de “o que eu to fazendo aqui!”. Então tratou de tomar a frente e dizer que conheciam, para evitar maiores constrangimentos. Fernanda ria. Um riso meio que de excitação... Meio que de nervoso por não saber o que encontrariam da outro lado da porta. Ana não disfarçava o nervoso. Nervoso por estar entrando num lugar como aquele... Nervoso porque o namorado não havia ligado... E mais nervoso ainda por pensar que ele, a qualquer momento, poderia ligar e como dizer ao namorado “ Oi amor, estou aqui com duas amigas numa boate gay”?!
Laura ria. Prestava atenção em cada reação das amigas. Gostava de ler as pessoas. Conhecer além do que se enxerga.
O segurança abre a porta e um mundo diferente se abre. O breu... O suor... O cheiro de sexo. Tudo parece pecaminoso. Os olhares são de gula. A dança é sensual. Todos buscam o mesmo: Prazer. Ana e Fernanda logo percebem que uma bebida seria extremamente necessária para aquele momento. Beber para suportar. Laura, por sua vez, se joga na pista. Ela ama dançar, e quando dança acredita verdadeiramente que todos os problemas de sua vida desaparecem.
De repente tudo fica mais escuro e no palco aparecem 3 homens e uma mulher. Corpos esculturais. Dançando divinamente. Deixando os músculos bem torneados à vista. Deixando homens e mulheres salivando. Fernanda e Ana correm para a frente do palco. Nunca tinham visto um gogo boy na vida e era simplesmente fascinante. Os garotos vendo claramente que ali se tratavam de duas mulheres faziam questão de atiçá-las. Fernanda mais que Ana estava vidrada no mais bonito de todos. Todos os hormônios de seus 22 anos gritavam, desejavam aquela carne. Mas era muito nova. Não tinha coragem sequer de chegar perto. Lara observa tudo de longe. Para ela, fora a música, nada ali era excitante. Já tantas visto tantas vezes, que havia ficado comum. Mas se dispôs a fazer a noite da amiga mais animada. Se aproximou e disse:
_ Fernanda, chega perto e pega nele.
Como uma ordem impossível de ser desrespeitada Fernanda se aproximou do palco, e imediatamente ele se abaixou. Fernanda passava a mão em suas pernas, e ele que de bobo não tem nada, pega a mão da moça e passa em seu peito, sua barriga... Fernanda sente cada músculo do rapaz, e fecha os olhos... Entra em êxtase. Nunca havia passado por tal experiência. Nunca havia tocado um corpo tão perfeito. A perfeição fascina.Depois disso não havia mais música, nem indignação com homens se beijando... Só havia aquele homem no palco. Ela não entendia que aquilo para ele era trabalho. Para ela havia sido um momento mágico, especial.
Enquanto Fernanda sonhava com seu novo príncipe, Ana (que claramente não se adaptou) reclamava dos pés que doíam. Laura dançava e ria do amigo gay que acabara de fazer que estava afim de um rapaz muito lindo do outro lado da pista mas que, por ser tímido, não conseguia fazer nada. Laura mais que rápido deu um jeito de aproximar os dois.
Já eram 5 horas da manhã quando as três decidiram ir embora. Laura porque olhava a cara de desgosto da amiga Ana que reclamava dos pés, Ana porque não gostou da experiência e se perguntava o tempo todo “Onde ele está? Por que não me ligou?!”... E Fernanda porque não tinha coragem de ficar ali sozinha, e dormiria com a doce lembrança de tocar naquele corpo.
Último dia de 2010.
Laura acordada moída. Há anos não dançava tanto e idade provou que essas extravagâncias agora tinham um reação diferente no corpo. Resolveu que passaria o dia de pijama. Estava só em casa, a filha havia viajado com a família do pai. Tinha em mãos um mundo de possibilidades. Podia fazer o que quisesse. Mas resolveu ficar em casa de pijama.
Ana acordou com o telefonema do namorado que havia sumido na noite passada. Como se isso não fizesse a menor diferença, se programou com ele para passarem a virada juntos. Decidiu ser melhor só contar da sua noite anterior até o ponto em que chegaram no bar. Achou mais prudente não contar para o namorado que passou a noite se jogando numa pista de uma boate gay rodeada por homens seminus.
Enquanto Laura se preparava para assistir o terceiro filme do dia, Fernanda liga e diz:
_Amiga, você não vai acreditar!
Depois dessa frase ela conta da busca que fez na madrugada pelo gogo boy... Oops.. Príncipe do seus sonhos. E que após tê-lo encontrado numa rede social e de uma conversa caliente, ela estava se preparando para encontrá-lo e dessa não vez não só tocar, mas provar da carne que mais desejou em sua vida.
Sei o que estão pensando... Ela é louca! E eu digo: Não, ela é jovem!
Laura toma um banho frio, troca seu pijama, abre uma garrafa de vinho.
À meia noite recebe o telefonema da filha, desejando um Feliz Ano Novo no meio de uma festa na praia, com fogos e direito a pular as sete ondas. Ela olha pela janela do prédio, e fogos coloridos surgem de todas as partes e estranhamente ela se sente em paz... Todos estão bem e felizes!

Feliz 2011!

Lady Balzaca